FLOR

DESCULPE-ME PELO MEU INGLÊS RUIM



 A grande maioria dos que se encontram hoje na classe C e com idade entre 25 e 35 anos é formada por filhos de quem trabalhou muito para que a família sobrevivesse. Algo que pode ser demonstrado muito bem no segundo episódio da primeira temporada de Master of None, quando Dev quer saber do passado de seus pais, e se decepciona ao saber que não fizeram nada além de trabalhar muito para sobreviver e mantê-lo alimentado quando criança. Contrapondo-se ao estilo de vida do próprio protagonista que tenta ser um ator de sucesso, almejando ir muito além de ganhar dinheiro com sua profissão. 

Para que tivéssemos uma vida melhor que nossos pais, fomos criados para sermos os melhores em tudo que nos propomos a fazer. O primeiro da família com curso superior, o concursado, o melhor da turma, o filho que alcançou o sucesso. Isso não é uma descrição de alguém em particular, é a mentalidade atribuída a toda uma geração que tem o dever de ser mais bem-sucedida que as anteriores. Muitos de nossos antepassados contentavam-se em ser medianos, no melhor sentido da palavra. Manter a família bem alimentada era mais importante que ser o melhor em algo. Algumas vezes, a única opção. 

Agora, veja só, a maioria de nós não alcança tais expectativas. E isso não é de todo mal, o que está errado é que nos sentimos muito mal em não o conseguir. Se você já tentou aprender inglês e teve a oportunidade de conversar com um nativo do idioma, por exemplo, provavelmente já soltou um belo: 

“First of all, sorry for my bad english. [Antes de tudo, desculpe-me pelo meu inglês ruim.]” 

O que está acontecendo é que estamos nos desculpando por algo que ainda nem foi julgado como digno de desculpas pelo ouvinte. Estamos baixando a guarda e as expectativas como quem dissesse “não espere tanto de mim”, tudo porque já temos que começar qualquer atividade sendo excelentes. 

Advinha só, ninguém espera tanto de você quanto você mesmo. Estamos tão acostumados em tentar sempre sermos os melhores, sempre em busca da excelência, que esquecemos de viver as pequenas conquistas. Deixamos de absorver a vitória em cada batalha porque estamos pensando como seria bom ganhar a guerra. Grande parte das vezes é você batalhando consigo mesmo, enquanto o mundo a sua volta quer, apenas, o essencial. 

Enquanto nos preocupamos com o que os gringos vão pensar do nosso país com tanta corrupção, miséria e tudo mais, as primeiras coisas que vêm à cabeça deles quando pensam em Brasil são, em geral, festa, futebol, Amazônia e bom-humor. Pode perguntar a qualquer um. Junte este complexo de vira-latas àquela auto cobrança excessiva e a máxima que diz que o gramado do vizinho é sempre mais verde e está formado um sentimento destrutivo que corrompe a autoestima de cada um de nós jovens adultos. 

Entretanto, dizer que você é a pessoa que mais cobra de você mesmo não exime o restante da sociedade de culpa. Sempre vai ter alguém que vai dizer, após um sucesso seu, que não esperava menos de você. Que confiava que você era muito bom nisto que fez. Em um primeiro momento, é ótimo receber um elogio destes. Por outro lado, tem gente que passa a vida toda elevando o grau de dificuldade por conta do feedback positivo de terceiros. Veja bem, não estou dizendo para que se acostume com a mediocridade, o que quero dizer é que está tudo bem ser mediano em algo. Talvez ser médio em tudo seja até uma virtude, o leque se abre para muitos caminhos distintos, coisa que quem é focado em ser o melhor em uma área específica nunca vai conseguir. 

Não podemos procrastinar, temos sempre que procurar a evolução. Melhoria contínua. Contudo, não podemos continuar propagando a cultura do melhor do mundo em tudo quando a realidade é que a excelência é alcançada por poucos. Delicie-se com suas próprias realizações, por menores que elas sejam. Se chegar ao seu máximo em determinada atividade, você estará sendo maravilhoso. Caso aconteça de ser o melhor naquilo que faz, ótimo. Senão, beleza. Mas, mexa-se, aja, faça. Não pode é ficar parado. Se você já se fizer entender, o inglês estará perfeito.

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