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Windows 10 não reinicia, não desliga. - Microsoft Community



Houve quem olhasse, naquele último dia de dezembro, para todo o ano que passou e fizesse o saldo das alegrias e fracassos que debutaram e repetiram durante os doze longos meses de vida. Aquele que calculou um saldo positivo pediu para que o próximo ano, a começar no dia seguinte, fosse um ano mais vitorioso ainda. Quem saiu machucado quis apenas que desse tempo de ter as suas feridas curadas antes de começar uma nova luta.

É feita a contagem regressiva.

Mesmo para o mais pessimista, o reinício de janeiro traz uma ponta de esperança. Esta que faz a todos pensarem que o melhor virá nos próximos trezentos e sessenta e cinco dias. Aquele olharia para hoje, o completo caos, meses depois, e diria que ela, a esperança, foi um surto momentâneo e que não mais repertir-se-ia nas reuniões seguintes que os seus sentimentos realizassem. Contudo, atenha-se ao pensamento do outro, o mais otimista.

Ele pode ser visto como um bobo utópico que não enxergaria um palmo a sua frente em momentos de crise como este. Por outro lado, ele é o único capaz de visualizar soluções onde ninguém mais veria brotar. Este não sou eu, agora sou um realista. Jamais gostaria de ser o pessimista que acostuma-se com as trevas onde vive e entrega-se nas mãos de quem tiver a sorte, segundo ele, de sair de um problema gigante com alguma nova solução mirabolante. A função do realista é fazer com que o pessimista deixe o seu péssimo pelo caminho e vá, aos poucos, livrando-se do derrotismo. Ele é o amigo do fracasso, mas acha que este é inerente da natureza humana.

Também é nossa função, daquele que atém-se ao momento e traça seu caminho por vias conhecidas, filtrar as ações do otimista que olhará o fundo do poço e analisará o que há de ser feito. Não pensará no impossível, como dizem. Para ele, é impensável que o homem tenha chegado onde chegou caso não encontrasse solução para cada problema que a seleção natural lhe sugerisse para, assim, tomar o trono. O seu maior engano é, invariavelmente, deixar de notar a maldade do ser mais pensante, própria do instinto de sobrevivência. Não o culpe. Apenas está cumprindo o seu legado. Quando estiver lá no fundo, dirá "ei, estou vivo" e "não morri na queda, nem afogado". Não verá para onde mais despencar e dedicará cada minuto para uma provável subida triunfal.

Foi um otimista que disse-me que a maior crise deste século seria um ótimo momento para repensarmos sobre todos os erros estruturais que a sociedade mantém porque já está acostumada, por conformismo ou por existirem remédios suficientes para manter um bom convívio com o mal. Seria a hora de deixá-los para trás, evitando consumir recursos humanos e naturais com aquilo que o próprio homem criou. Erramos algumas vezes e o erro torna-se perpétuo, normalizado. Ou criamos saídas para o que foge do controle da sociedade, porém, esquecemos que o tempo muda o homem, que muda o que o homem gera e que o gerado talvez já não esteja em consonância com aquela saída de eras passadas.

Uma recessão, segundo o otimista,  dá a liberdade de selecionarmos toda sorte de coisa inútil. O que resta, melhoraremos. As lacunas serviriam para alocar estas melhoras, desenvolvermos novas utilidades adequadas ao nosso tempo, ou, simplesmente, tirarmos um tempo para o nosso egoísmo. Esse bicho chamado homem precisa de duas coisas para manter-se dominante: inteligência e outros exemplares do mesmo bicho. Vide que os polegares opositores já não são sinônimo de superioridade. Afinal, em uma briga entre um homem e um chimpanzé, este com quatro e aquele com dois dedos do tipo, cada qual com todas as ferramentas que sua espécie criou, quem venceria? Infelizmente, a pólvora e a jaula.

A melhor forma de manter-se em comunhão é usando de sua inteligência para agir bem ou perversamente na medida da necessidade. Para ser inteligente, o homem precisa manter seu cérebro livre de grandes estresses, a fim de restar mais energia para adquirir e desenvolver conhecimento. Por fim, na maioria das vezes só é possível livrar-se destes estresses estando longe e pensando apenas em si. Enquanto o homo sapiens permanecer soberano entre as nuvens e o mar mergulhável, a sua sociedade é o cérebro de um mundo que está estressado, super utilizado. É necessário que nos livremos daquilo que criamos nos tempos de antigamente, disso que é inútil e prejudicial como um dente do siso. Ou daquilo que até tem a sua função, como o apêndice, mas não pode consumir recursos ou atrapalhar quando precisarmos dar atenção a um cérebro.

Talvez, seja época de tomar fôlego para realizar uma cirurgia política e social, otimizar a máquina e partir para uma nova era onde quebras de bolsas de valores, ou a inexistência destas, não exponham pessoas a uma vida indigna, ou onde uma pandemia seja previsível e contornável. O pessimista dirá que acabou, que o homem destruirá a si e aos outros seres, talvez até aqueles que sobre os quais ainda não tenha domínio. O otimista plantará uma semente no deserto e esperará nascer um belo vegetal. Caberá ao realista ignorar o que o primeiro diz e esperar que o segundo tenha encontrado alguma nova espécie de cactus, ou avisá-lo que ali não dá mamão.

Em dias de isolamento, o otimista que disse que teremos algo de bom depois de passado este momento dificultoso fui eu mesmo.  Já fui ele, já cogitei o fim da raça humana e agora estou tentando pensar no que realmente pode ser feito. Serei os três ciclicamente e, assim, crescerei como gente, esperando que todos também assim o façam.

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