FLOR

STEVEN UNIVERSO É INDISPENSÁVEL PARA UM MUNDO MAIS AMOROSO

A Cartoon Network sempre foi polêmica quanto às obras animadas que escolhia para transmitir em sua grade. Não apenas quando se trata da Adult Swim, a faixa especial para desenhos mais maduros, mas também em sua programação normal.

Steven Universo por Rebecca Sugar.

O mundo tenebroso de Coragem, o Cão Covarde, onde o pessimismo reinava, mesmo com o triunfo do pequeno herói canino rosa. A primeira versão de As Meninas Superpoderosas que trazia piadas mais pesadas como a história do vilão mais recorrente, um macaco de laboratório que sofreu sérias mutações. Até o diabo foi retratado nesta série e em Eu Sou o Máximo, sendo que, na primeira, nem o nome ousavam dizer.
A emissora sempre abordou temas pesados de maneira leve e continua assim até hoje. O mundo pós-apocalíptico de uma de suas melhores animações já produzidas, Hora de Aventura, traz situações desconfortáveis contornadas com um humor ácido e muita criatividade (vide o episódio Simon & Marcy). E foi exatamente nesta série que o mundo conheceu a jovem e talentosíssima Rebecca Sugar.
A sua primeira colaboração para a história de Jake e Finn foi em “E Veio a Noitosfera”, mas foi com o episódio “Obrigado” que chegou ao seu auge na série, indicada para o prêmio Annie Award por Melhor Storyboard na TV. A menina prodígio das animações mostrou-se arma indispensável para o sucesso da CN e, em 2013, ganhou seu próprio espaço na programação. Nascia Steven Universo quando Rebecca ainda tinha 26 anos.
A série mostra um menino e suas guardiãs alienígenas, as Crystal Gems, grupo criado por sua líder, Rose Quartz. Rose teve de dar a própria vida para que Steven, o protagonista filho de um humano com uma Gem, nascesse. Isso tornou Greg pai solteiro de Steven, trazendo o primeiro “não tem problema” do desenho.
É essa naturalidade que Rebecca traz em diversas situações de Steven Universo que torna a série uma das mais amadas e amáveis da Cartoon Network. Questões como moral, amizade e até homoafetividade são levantadas com tamanha sutileza que enche os olhos daqueles adultos com feridas abertas por um mundo cheio de preconceitos. Quem consegue enxergar estas entrelinhas escritas por Rebecca e as percebe como algo bom para as suas crianças entende como é importante a existência de Steven Universo. Que lindo o mundo seria se virassem adultos mais tolerantes e amorosos como aprendem a ser assistindo as aventuras do menino Steven.
O episódio “A Resposta” da segunda temporada é um ótimo introdutório para quem deseja entender a preciosidade que é o roteiro desta série. Milhares de anos antes do contemporâneo de Steven, Rose criou as Crystal Gems para proteger a Terra de uma colonização de seu povo natal. As rebeldes resistiram bravamente às investidas da Diamante Azul, a grande opressora que queria dominar o planeta.
Diamante Azul enviou, então, Safira, uma Gem da nobreza com poder de adivinhar o futuro. Tinha um ar gélido e tons de azul e branco em seu corpo e vestimentas. Para proteger a nobre Safira, foram enviadas três Rubis, guerreiras simples de pele vermelha com tons mais escuros em sua aparência, sangue muito quente corria em seus corpos. Quando uma das rebeldes tentou atacar Safira, a única Rubi que restara viva lançou-se a frente para protege-la. O resultado desse ato de carinho e entrega foi uma fusão entre as duas.

Fusão entre Rubi e Safira.
As Gems que presenciaram a tal “fusão” viram aquilo como algo repulsivo. Nunca tinham visto a fusão de duas Gems “diferentes”. Proferiram frases como “Que nojento! ”, “Inacreditável! ”. Percebendo que Rubi seria condenada à morte por se fundir com uma nobre, Safira a puxou pelo braço e a levou para fora da base, em segurança. Esconderam-se em uma caverna para pensar nos seus próximos passos. No meio de toda essa confusão, Rubi viu a beleza de Safira e entrou em chamas, literalmente.
Iniciou-se um belo romance naquela noite. Rubi e Safira fundiram-se uma outra vez, criando Garnet. A sensibilidade com que Rebecca traz um amor tão controverso como esse é exemplar. Tudo pode ser resumido na conversa entre Garnet e Rose, quando a fusão temia por sua morte:
-  Eu não incomodo você? – Disse Garnet, envergonhada.
- Quem liga para o que eu sinto? O que você sente, com certeza, é mais interessante. – Respondeu Rose.
 Confusa com a própria situação, Garnet lança várias perguntas à Rose que a diz para ficar tranquila, a resposta seria ela mesma. Garnet chega à conclusão de que todos os problemas poderiam ser resumidos em uma única resposta: Amor.
Não é explícito que as Gems são do sexo feminino, mas as roupas, as vozes e o formato de seus corpos são muito semelhantes ao que se vê nas mulheres. Rebecca mostrou em Garnet uma visão do amor sem predefinições. Ela é o resultado do amor incondicional entre uma nobre e uma plebeia, de raças diferentes e, talvez, do mesmo sexo.
As cenas aquecem o coração, nada é cuspido como uma correção ao preconceito, as mensagens são transmitidas de maneira natural e sutil. Rebecca criou um roteiro simples, como deve ser para uma animação infantil. Contudo, traz à tona as questões mais complexas da cultura humana de forma quase subliminar.
Muitos pais viram o desenho e disseram “o que meus filhos vão pensar disso? ”, como aconteceu na Inglaterra, onde Steven Universo foi censurado por ser muito homossexual. O que deveriam estar se perguntando é: que tipo de ódio estão plantando na cabecinha de seus filhos? A própria Rose não questionou a situação de Garnet, só à Garnet cabia o questionamento. Nada mudaria na vida de Rose ou qualquer outro se houvesse ou não amor entre Rubi e Safira. É por isso que Steven Universo é indispensável para todos os públicos, trazendo o que há de mais bonito na humanidade. 
Um dos maiores novos clichês da internet, dito por Nelson Mandela e retransmitido  há poucos dias por Barack Obama, pode traduzir todo este sentimento:
“Ninguém nasce odiando outra pessoa por sua cor de pele, seu passado ou sua religião. As pessoas aprendem a odiar. E, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.”


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