FLOR

O PODER DA ESTEREOTIPAGEM

                Perdi as contas de quantas vezes li sobre como a discriminação de gênero, raça ou orientação afetiva, quando velada, não gera os mesmos resultados de quando é explícita. Esse tipo de coisa me faz relembrar da ideia do macro senso, de pensar na máquina como um todo, de entender que um sistema de pequenas engrenagens pode girar uma engrenagem maior e mais efetiva.


                Imaginar que subjugar um grupo vai fazê-los mais forte ou que só serão afetados se forem fracos é esquecer que vivemos em sociedade e que os atos de cada um são importantes para fazer a máquina funcionar do jeito certo ou errado. Quando o indivíduo que subestima os diferentes encontra um grupo de semelhantes e constrói um ideal baseado em seus preconceitos, a coisa piora. A ideologia de uma comunidade e a maneira como ela se desenvolve mira nestas ideias e se molda conforme seus padrões tortos.
Um bom exemplo é o que chamam de patriarcado, um sistema voltado para o comando do homem, no sentido de sexo masculino, que ainda é muito presente. De fato, políticas adotadas por vários países desde os anos oitenta em combate à discriminação de sexo têm melhorado a maneira como o mundo vê essa questão, mas a semente plantada do homem subjugador ainda está germinando, essa árvore é centenária.
Estudos de psicologia da Universidade de Harvard mostram como uma pessoa diminui as suas próprias capacidades, inconscientemente, quando são expostas ao próprio estereótipo social. Foi selecionado um grupo de mulheres americanas descendentes de asiáticos. Algumas mulheres, neste estudo, responderam a um questionário prévio onde deveriam indicar o seu sexo e responder a algumas perguntas relacionadas à sua identidade de gênero. Outras tiveram que indicar sua etnia e responder questões relacionadas a ela. Um terceiro grupo respondeu questões que nada eram relacionadas à gênero ou etnia. Nenhum dos grupos tinha a ciência explícita de que estariam respondendo questões manipuladas para ideias de gênero ou etnia.
Depois destes questionários prévios, foram aplicados aos três grupos exercícios de matemática idênticos, com vinte minutos para que finalizassem. O resultado foi o esperado. As mulheres expostas previamente a questões ligadas ao feminino foram as que tiveram as piores notas, as mulheres que responderam questões prévias ao teste relacionadas a sua etnia tiveram as melhores notas. Já as moças que não foram direcionadas a sexo ou etnia tiveram notas medianas. Quis enfatizar a palavra “mulheres” pois todas estão no mesmo núcleo de comunidade, são mulheres, são descendentes de asiáticos e são estudantes universitárias. Ou seja, são pessoas com vivências e habilidades semelhantes.
Por fim, os três grupos responderam perguntas como “O que você achou do teste? ”, “Quão boa você é em matemática? ” e “Como acha que se saiu? ”. O resultado foi semelhante nos três grupos, mostrando que as mulheres não se sentiam subestimadas ou superestimadas por seus estereótipos. Nem perceberam o quanto isso influenciou nos seus resultados. Estudo semelhante foi aplicado a pessoas negras, tendo impactos negativos quando respondiam a um questionário prévio relacionado, sutilmente, à etnia afrodescendente.
Isso mostra como uma mesma pessoa tem distintas identidades e pode ser influenciada pelo meio para o bem ou para o mal, dependendo do estereótipo que for escolhido. Em seu subconsciente, as pessoas são afetadas em tudo aquilo que falam sobre as suas características individuais, indo contra o pensamento de que basta ser forte que nenhum mal lhe afetará. É a inversão dos esforços, quando seria bem mais produtivo encorajar a todos, independentemente de uma condição física ou geográfica. Ou, pelo menos, não levantar a hipótese se esse ou aquele é menos capaz por conta de uma característica comum um povo e não ao sujeito.
O preconceito é como um vírus forte que atinge os médicos, enfermeiros e demais profissionais que tentam elimina-lo. A diferença é que essa doença é silenciosa e a maioria nem percebe o mal que está lhe consumindo. Mas, ficar calado não vai ajudar em nada. É necessário encontrar a nascente deste mal e extermina-lo diretamente ao arrancar a sua raiz. O preconceito velado é mais danoso que aquele explícito, que se mostra ruim por inteiro.


E, viva à Malala Yousafzai, a menina que lutou por melhor educação feminina no Paquistão durante o regime Talibã. Ela foi Nobel da Paz aos dezessete anos e acabou de anunciar que irá estudar em Oxford, uma das mais bem conceituadas universidades do mundo.


Fontes: http://journals.sagepub.com.sci-hub.io/doi/pdf/10.1111/1467-9280.00111 e http://www.apa.org/research/action/stereotype.aspx

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