FLOR

OLHE EM VOLTA. ISTO É SEU!

O mês é dezembro. A grande festa de formatura se aproxima, depois de longos doze anos de educação básica. A noite está toda programada, alguns professores e alguns outros funcionários da escola estão dispostos em uma mesa. O paraninfo está pronto para trazer os formandos e a família está pronta para aplaudí-los. Entram, sua música favorita toca, pegam o canudo, tiram foto com a diretora e pronto. Formados.

E agora?

O, agora, ex-aluno finalmente consegue seu primeiro emprego. Ele era um prodígio em matemática no fundamental e no médio, mas acaba cometendo o erro de gastar todo o dinheiro pago por conta de suas primeiras férias durante o período afastado. Quando volta ao trabalho, tem que comer macarrão instantâneo por um mês, já que percebeu que não havia de fato ganhado todo aquele dinheiro. Com excessão do equivalente a um terço do seu salário, o restante era um adiantamento a ser descontado do próximo salário.

- Por que não me avisaram?

Mas ele sonha com um celular que não trave, que seja melhor do que aquele tijolo inútil pesando em seu bolso. Dez meses economizando e, finalmente, despeja dois mil reais no balcão da loja para adquirir o tão desejado aparelho. Mais um mês se passa e ele está xingando aquela máquina de tudo. Dois mil reais é muito dinheiro! Como pode não valer o preço? Bom, na verdade, considerando PIS, COFINS, CSLL, imposto de renda e ICMS, o celular valia pouco mais de mil. Talvez o seu desempenho refletisse, sim, o real custo-benefício.

- Eu não sabia disso.

Depois de trinta férias contidamente aproveitadas e muito dinheiro seu aproveitado em tributos, ele se aposenta, idoso, e descobre que sua cidade possui, há muitos anos, um programa para dar acesso à cultura a preços baixíssimos, às vezes de forma gratuita. Começa a frequentar teatros, cinemas alternativos, musicais, saraus, a biblioteca municipal... tudo que já estava disponível mesmo antes de adquirir as isenções da terceira idade. Consequentemente, conheceu a história da cidade, os pontos turísticos de um lugar que havia vivido por mais de setenta anos. Sempre pensou que precisaria fazer turismo no interior, na praia ou em outro Estado para ter esse tipo de vivência.

- Tantos anos eu perdi!

Conheceu alguns dos seus direitos e deveres trabalhistas. Entendeu que parte de sua renda seria distribuída para o restante da população, ou, pelo menos, deveria ser. Acabou conhecendo a cultura à sua volta e se aproveitando dela. Mas, não a usufruiu em sua totalidade. Não conseguiu, também, medir suas finanças de forma correta, nem usar a legislação trabalhista, os direitos civis ou qualquer outra carta a seu favor. Se foi, sem aproveitar metade do que estava disponível.

Ele não sabia o que tinha ao seu redor. Por mais que se esforçasse para adquirir conhecimento de vida social, não conseguiria atingir a plenitude sozinho. Alguém deveria ser responsável por disseminar este tipo de informação para pessoas como ele. Se viver em sociedade exige tantas regras, alguém deveria ensinar-lhe desde sempre como segui-las sem maiores problemas. E, se esta sociedade lhe provém tantos benefícios, alguém deveria dizer-lhe quais são.

Naturalmente. Da forma mais básica possível. Desde o berço.

Mas, quem?

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