FLOR

VAI TER BEIJO LÉSBICO, SIM!! E NÃO TEM NADA A VER COM VOCÊ



            Vários jogadores se espantaram, no fim dos anos 1980 e início dos anos 1990, quando perceberam que estavam há horas jogando um videogame sem perceber quem realmente era o protagonista. Os filmes de ação como Robocop e o Exterminador do Futuro faziam a cabeça dos adolescentes àquela época e não era de se espantar que outras mídias tentassem repetir o sucesso destas produções. Assim, muitos jogos surgiram com a mesma temática, sucesso instantâneo para aqueles que fizeram um trabalho minimamente aceitável.


                Foi assim com Metroid, de 1986, da Nintendo. Um soldado bruto, destemido, luta contra vilões espaciais que querem criar armas biológicas a fim de dominar o universo. Um ambiente “brucutu”, com explosões e muita masculinidade. A não ser que o jogador chegue até o fim do jogo, quando o protagonista remove sua armadura revelando-se... uma mulher. Samus Aran chutou traseiros durante horas de gameplay sem que ninguém notasse seu gênero. Quem imaginaria que aquele habilidoso soldado fosse uma mulher. Uma quebra de paradigmas gigantesca para época. É claro que abriu as portas para a luta contra o preconceito no mundo gamer, certo? Será mesmo?

                A E3, Electronic Entertainment Expo, é a maior feira de videogames do mundo. Nela, são mostradas as novidades para um futuro próximo, sempre sendo criada uma hype enorme em torno de cada apresentação. E foi na E3 de 2018, 32 anos depois do lançamento de Metroid, que se criaram polêmicas em torno de vários anúncios de jogos esperadíssimos. A Ubisoft anunciou o novo Assassin’s Creed Odissey, onde o jogador poderá escolher controlar uma mulher guerreira na antiga Grécia. Muitos reclamaram que o jogo, conhecido por ser fiel à História, colocaria uma mulher em um exército grego que, na vida real, era completamente masculino. Não teria nenhum resquício de machismo se isso fosse verdade e se a série fosse realmente fiel à História. Esqueceram que não há um registro histórico que mostre Leonardo Da Vinci fazendo armas para um grupo de assassinos, como acontece na trilogia de Assassin’s Creed 2.

                O mesmo vale para o novo Battlefield, onde controlaremos mulheres na Segunda Guerra Mundial. Mais uma vez, reclamações por deturparem a história, ignorando o fato de que, sim, mulheres lutaram naquela guerra. Vide as aviadoras Bruxas da Noite. Mas, o grande furor foi causado pelo jogo mais esperado da E3: The Last of Us 2. O trailer do jogo foi direto ao trazer a protagonista, Ellie, em um relacionamento gay, com uma cena de um romântico beijo em outra menina. Acusaram a produtora de querer colocar representatividade em tudo, de empurrar goela abaixo o “politicamente correto”.

                O que fica de fora deste raciocínio de quem criticou o trailer é que sempre houve protagonistas heterossexuais em jogos, inclusive com cenas de nudez explícita. Isso nunca incomodou ninguém além de pais conservadores. Agora, quem critica The Last of Us 2 é a própria comunidade de jogadores, os próprios fãs da série. Não é todo mundo que é homossexual, entretanto, se compararmos a quantidade de personagens gays que estão do lado do bem com personagens heterossexuais, certamente, não chega nem perto da proporção na vida real. Na maioria das vezes, quando há gays em alguns jogos, eles são vilões e caricatos.

                O mundo é diverso, há gente de todo tipo de afetividade, de todos os gêneros, de todas as etnias, de todas as classes sociais. Mas, se o protagonista não for um homem branco cisgênero heterossexual, há estranhamento disfarçado de “veja bem”. Nunca é o preconceito, sempre é algo que o rodeia, baseado em algum tipo de estatística irreal ou de uma verdade própria. Ninguém assume que fica incomodado com mulheres poderosas, com gays fortes, acima de tudo, com pessoas normais que representam parte da sociedade. E, na maioria das vezes, não existe uma luta clara contra o preconceito no enredo de jogos que trazem estas pessoas. Simplesmente estão ali, assim como estão na sociedade. Sem alardes, só existem e pronto.

                Lembra daquela frase que muitos que sofrem com o preconceito falam? “Você não tem que me entender ou conviver comigo, só tem que me respeitar como sou”. Vou ter a audácia de contradizê-la. Você não tem que respeitar. Você não tem que fazer nada. Isso não é da sua conta. Estas pessoas existem e você não tem nada a ver com o que elas fazem com a própria vida. Sinta-se à vontade para ignorá-las, pois, certamente, elas já o ignoram há muito tempo. Ficam quites.
                E, outra coisa, no momento que alguém tenta justificar o preconceito com uma inverdade, só se mostra mais ignorante ainda. Por não “aceitar” que existam pessoas diferentes e por defender uma realidade que claramente não tem o menor conhecimento para estar bostejando aos quatro ventos.

                Vai ter mulher beijando mulher, sim! E se não gostar, vai ter até casamento gay.
               

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